maria bonita sem lampião

porque há uma hora em que todos os bares se fecham e as virtudes se negam

Mês: março, 2015

família

dia desses enquanto via uns trechos da novela das seis (7 vidas), me peguei refletindo sobre o quão frágil é o conceito de família – no sentido de ser abrangente, falar sobre tantas coisas, tantas pessoas, tantas realidades. na ocasião, as duas personagens principais (que descobriram ser irmãos por meio de um mesmo doador, identificado por um número, 271) conheciam mais 2 irmãos e agora eles já se somavam em 5. que podem ser muitos, não se sabe. e todos estão num processo de descoberta, de descobrir a família – caso essa exista, pois pode não existir, ainda que geneticamente semelhantes. família é sentir.

sou a favor da família. das famílias. de pai e mãe. de pais, de mães. só de um pai e só de uma mãe. de vós, de tios e sobrinhos. de irmãos por metade que são inteiros. de agregados. das famílias de um membro só (o sozinho, por opção, que se adapta e se encaixa em tantas outras famílias e que também recebe tantas outras famílias), dos colegas, amigos, irmãos que resolveram morar juntos no período da faculdade e passam por rotina, perrengues e prazeres de uma família. dos jovens casais. dos velhos casais.

não me é concebível que alguém se julgue o guardião (ou acima de algo) para metrificar, defender e padronizar todas essa variedade de relações. toda essa complexidade. quando tiver – caso tenha – filhos, quero, acima de tudo, que saibam que seu modo de vida é só mais um nesse emaranhado que somos. que não somos perenes, mas sim mutáveis. que somos vários, muitos, de todos os tipos possíveis e diferentes. mas iguais.

esferas

Vou confessar. Mesmo. Juro. Viver a vida, assim, vivida, em todas suas dimensões, me intriga. Explico: vivemos em esferas, certo? A global, política, social – das coisas como um todo, da independência de Kosovo à tendência inflacionária. A pessoal – da corridinha da vergonha pra pegar a lotação, do lembrete para a compra da ração dos gatos (e com o *, *de salmão), do relatório a ser entregue. E a pessoal, mais pessoal ainda – a que vem de dentro. E dentro fica. Eu não consigo, e não sei se deveria, mas alguém me disse que deveria e se alguém não me disse que deveria eu suponho por mim mesma que deveria separar essas esferas. Mas sou incapaz. Falho.

É como se eu (digo eu, mas entenda nós) transitasse entre os paralelos. Ainda tento entender, por exemplo, quem em sã consciência achou que seria possível realizar uma Copa do Mundo no Brasil e que continuaria tudo, assim, normal? Quem achou que seria possível ir ao banco, tirar boletos, pagar contas, fazer a compra da semana, assistir aulas, frequentar reuniões, fazer pautas, faxinar o banheiro, trocar as lâmpadas e verificar a água do radiador com tudo aquilo acontecendo? Durante um mês por todas as horas?

As coisas acontecem toda hora. E são muitas coisas. Em várias horas.

É um malabarismo. Faz assim, enquanto a água do café ferve (fora o pensamento comum de toda fervura da água, sobre o ponto de ebulição que diminui quando o açúcar é acrescentado) pensemos na conjuctura. De como sair à esquerda (ou à direita, a gosto do leitor). Enquanto esperamos na fila do xerox, reflitamos sobre a estrutura, sobre a superestrutura, sobre o desenvolvimentismo. E enquanto o professor não chega para aula, ou o chefe para reunião, rascunhemos sobre a crise representativa. Casaremos as esferas.

E a pessoal, mais pessoal ainda, deixemos pro domingo. Domingo à noite. Como tem de ser.